Por que uma Psicologia LGBT+? Entenda estressores de minoria, terapia afirmativa e mais!
- Ana Beatriz B. de Souza
- 1 de jul. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 22 de jan.

A psicoterapia acolhe minha diversidade?
Pode parecer óbvio que a psicoterapia deva ser um espaço de acolhimento e escuta das vivências. No entanto, infelizmente, por vezes pessoas LGBT+ se deparam com situações discriminatórias intencionais ou pela falta de sensibilização e de capacitação de atuar de maneira que contemple e respeite nossas vivências e existência. Logo, o questionamento é extremamente válido para entendermos também o porquê falamos de uma Terapia Afirmativa LGBT+, Psicologia LGBT+.
Inicialmente é preciso lembrar que estudos baseados em discriminação já legitimaram condutas profissionais diversas a classificarem sexualidades, pessoas não hétero-cis, como desviantes, associadas a algum tipo de doença, transtorno mental, distúrbio. As marcas dos preconceitos reverberam em todas dinâmicas sociais, tornando essencial a produção de conhecimento questionador e de transformações na promoção de direitos básicos da comunidade. Os avanços no debate, a produção de saber e muita luta exige da classe profissional hoje um posicionamento de enfrentamento das violências, discriminações e na aliança pela conquista e promoção dos direitos.
Código de Ética Profissional somos provocados a nos capacitar continuadamente, como também a não perpetuar preconceitos e atuações discriminatórias. O CFP reafirma: “a Psicologia brasileira não será instrumento de promoção do sofrimento, do preconceito, da intolerância e da exclusão” (CREPOP, 2023).
Entendemos que ninguém está ileso dos atravessamentos de compreensões preconceituosas e dos mecanismos das estruturas de opressões sociais, certo? E é por conta disso, que dentro da clínica é preciso ter escuta e falas sensibilizadas a especificidades de diversas vivências, pois a violência vai muito além daquela explícita fisicamente e verbalmente. As estruturas dos preconceitos estão entrelaçados as nossas concepções, linguagem, pressupostos... E na Psicologia a atuação deve estar preocupada e com atenção no manejo e nos estudos que se debruçam sobre os estudos das manifestações dos preconceitos na sua forma social, cultural, institucionalizada e nos impactos disso no indivíduo. Uma clínica respaldada pela Terapia Afirmativa (Borges, 2009), questiona a fixidez das sexualidades e gênero dentro das práticas terapêuticas, fomenta o letramento como cuidado e educação da atenção as reproduções da exclusão e preconceito velados, omissões por parte da sociedade e do Estado, que também ocasionam grandes sofrimentos para a comunidade.
A preocupação aos aspectos "menos visíveis" da discriminação compreende que há influência direta na compreensão de si, na construção da subjetividade e bem-estar dos sujeitos. Por exemplo, todos vivenciam estresses cotidianos advindos do meio, seja o trânsito, algumas experiências de trabalho. No entanto, pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ presenciam também de estressores sociais específicos, a partir desse ponto que os estudos de Meyer (2003) propõe a Teoria do Estresse de Minoria. Existem eventos e condições sociais que ocorrem com determinados grupos sociais pelo fato de pertencerem ao que foge da norma instituída. O termo "minoria" aqui não se refere a uma questão quantitativa, mas sua relação de menos acessos institucionais pelo Estado e socialmente em comparação à maioria hegemônica (Hernandez, Accorssi, Guareschi, 2013). Como a branquitude em uma estrutura de poder que opera de forma opressora diante as pessoas que não se enquadram na norma de pessoas brancas, reverberando assim no racismo contra pessoas não-brancas.
No que diz a respeito das imposições de normas heterossexuais e cisgênero, estressores como as violências decorrente da invisibilidade, falta de apoio, abandono, por exemplo, são experiências frequentes nessas vivências e impactam psicologicamente a partir das avaliações cognitivas realizadas pela pessoa (as interpretações, o que se internaliza a partir do que se lê, vê, vive, ouve...). Por isso ao falar de violências da discriminação, falamos além das agressões físicas e verbais. Pense na reverberação na subjetividade do sujeito ao ter seu direito negado de se casar com quem deseja, ser afastado da coletividade, o desrespeito de não ser chamado pelo nome desejado, ser excluído, invisibilizado das pautas, mídia.
Diante disso, o autor citado enfatiza a ser incorporado na prática o conhecimento sobre os estressores em perspectivas de (i) eventos diretos e externos, (ii) construções de expectativas e hipervigilância que advém de experiências discriminatórias anteriores ou de informações tidas sobre a violência contra esse público, (iii) a percepção negativa sobre si, ou seja, a internalização dos estigmas pejorativos elaborados socialmente sobre a comunidade. Portanto, uma Psicologia que se atenta, atualiza e caminha junto da comunidade LGBT+ é capaz de uma atenção da totalidade do sujeito em um meio, acolhendo, legitimando e potencializando sua existência e comunidade.
Referências bibliográficas:
BORGES, Klecius. (2009). Terapia afirmativa: Uma introdução a psicologia e a terapia dirigida a gays, lésbicas e bissexuais. São Paulo.
HERNANDEZ, Aline Reis Calvo; ACCORSSI, Aline; GUARESCHI, Pedrinho Arcides. Psicologia das minorias ativas: por uma psicologia política dissidente. Revista Psicologia Política, v. 13, n. 27, p. 383-387, 2013.
MEYER, Ilan. Prejudice, Social Stress, and Mental Health in Lesbian, Gay, and Bisexual Populations: Conceptual Isuues and Research Evidence. Psychol Bull. 129 (5): 674- 697, 2003. https://doi.org/10.1037/0033-2909.129.5.674
Referências técnicas para atuação de psicólogas, psicólogos e pscólogues em políticas públicas para população LGBTQIA+ [recurso eletrônico] / Conselho Federal de Psicologia, Conselhos Regionais de Psicologia, Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas. — Brasília : CFP, 2O23.
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